Saldo de 2012: o melhor ainda está por vir.




Dias desses fui pega de surpresa por minha própria consciência. Quando menos esperava, flagrei meu próprio pensamento indo de encontro ao que havia se passado neste ano de 2012. Lembrei-me das conquistas, das descobertas, das viagens, das perdas, dos medos, das pessoas que eu havia conhecido (de verdade) e das que eu tinha rasgado a oportunidade de conhecer.
Impossível foi não lembrar os rompantes. Da ilusão repentina de que desentendimentos poderiam ser resolvidos em conversas de escadas. Da ousadia de tentar fazer o próprio destino; consequentemente, da perda por perceber que, por mais que eu tentasse, ser dona do próprio caminho ainda era algo bem distante da minha realidade.
2012 passou rápido. Rápido demais, até. Lembro-me nitidamente dos planos que eu fazia no Ano Novo passado. Vale ressaltar que praticamente nenhum deles se concretizou. Criei metas fixas, coloquei-as anexadas por todos os lados. O que a vida me trouxe, no entanto, foi algo que eu nunca pensara em pedir.

Algumas coisas simplesmente não passam.




Pseudo-fim-de-ano, pseudo-período de se arrepender, pseudo-tempo de preparar novas promessas para o próximo ano. Mal consegui realizar as metas para este ano e já estou formulando o que farei no próximo. Ainda mais gritantes que isso, são os planos que já faço para daqui a dez, vinte, trinta anos.
A faculdade de Medicina ainda vem em primeiro lugar. A súplica de resolver meus próprios problemas pessoais vem junto com ela. Demorei para perceber isso, mas essa “neurose” que há tanto me acompanha com relação aos estudos tem nome e sobrenome. Data de nascimento também. Se duvidar, prazo de validade acompanha o pacote.
Vontade de resolver tudo é o que não falta. Formas de fazer isso é que são mais escassas. Daí a substituição: um problema pessoal por um sacrifício escolar. Nessa troca, já ganhei muito mais pontos que perdas. Pelo menos é o que ainda teimo em repetir.
Na prática, o sentimento é bem diferente. Tanto estudo, tanto esforço, tanta sede, fome e desespero por um bom futuro profissional apenas escondem um vazio que eu sei que ainda vai me acompanhar na vida pessoal. Vazio, vácuo, falta. Perda. Alguma dessas palavras um dia vai explicar.
Não adianta esconder as próprias fraquezas e vestir uma armadura de força. Não se for mentira. Podem passar anos (como já passaram vários), cursos, conquistas e reencontros. Algumas coisas simplesmente não passam. Algumas pessoas também não.

Raíssa Victória Muniz
07/11/12

Fase final da 4ª ONHB (Campinas, SP): Uma experiência que valeu ouro.



 As 5 equipes do Piauí



Se ainda existe alguém que lê isso aqui, peço desculpas por tooooodos esses dias que passei sem postar coisa alguma. Como a maioria já sabia por meio dos posts anteriores, eu estava me preparando para a fase final (6ª etapa) da 4ª Olimpíada Nacional em História do Brasil que ocorreu na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) em São Paulo nos dias 20 e 21 de outubro.
Para quem nunca havia competido presencialmente em olimpíadas científicas, essa foi uma experiência e tanto. Saímos (eu, minha equipe, nosso professor orientador e o diretor) de Teresina (PI) ainda na sexta-feira, por volta de 5h30min da madrugada. Depois disso tomamos um belo chá de cadeira no Aeroporto Internacional de Brasília, onde precisamos fazer conexão. Segundo alguns da equipe (cof cof cof) as várias horas que passamos em Brasília serviram pra limpar a vista... Não posso dizer o mesmo. Fui limpar a vista quando já estava lá em Campinas mesmo (hahahaha).
Já em Campinas, começamos a perceber como funcionava a cidade ainda no Aeroporto Internacional de Viracopos (Aliás, descobri o porquê de “viracopos”. É cada pérola que a gente via por lá!). Uma coisa eu preciso ressaltar: pra quem viajou com o estereótipo de que o pessoal de São Paulo era frio e nada receptivo, conhecer a cidade de Campinas foi um belo tapa na cara. Se tem uma coisa que não posso reclamar, essa coisa é a educação e receptividade deles. O forte sotaque também foi algo que chamou minha atenção de forma positiva.
Fomos a alguns shoppings da cidade, pegamos ônibus lá, andamos pelo Centro da cidade, conhecemos a Unicamp (aliás, só tenho uma coisa a dizer de lá: UAU!) e curtimos muito aquele friozinho que, infelizmente, não deu pra trazer pra Teresina. Contudo, o mais importante foi a experiência.
Quando me inscrevi para a seletiva interna do meu colégio, minha cabeça era completamente diferente. Hoje, escrevendo este texto depois de ter participado da ONHB, só posso dizer uma coisa: minha vida mudou. Aprendi a encarar a História do Brasil de outra forma (beeeeeem melhor que a anterior!), tomei gosto pela matéria e quando menos esperava, me vi fazendo pesquisas e analisando documentos para o próprio assunto regular da escola. A Olimpíada Nacional em História do Brasil me presenteou com ótimas experiências, ótimas histórias e pessoas maravilhosas que conheci por lá (Valeu, Ridson, Cliff, Brenda e Ícaro, do Ceará; Tamires, Lucas e Alisson, do Piauí e as duas equipes de Jatobá do Piauí que eu não lembro bem os nomes do integrantes, mas que adorei ter conhecido).

Meu certificado

Foi uma ótima oportunidade também de conhecer melhor meus companheiros de equipe (e nisso me refiro à equipe ESH). Gostaria de agradecer pela companhia da equipe Heróis do Jenipapo na viagem e o apoio da Bastardos Inglórios e Pretorianas, ambas da minha escola, que não chegaram a passar para a fase final, mas que bravamente lutaram e chegaram até a 5ª fase.
Voltamos para casa com uma medalha de honra ao mérito e certificado de menção honrosa, mas eu, com todo orgulho, posso confirmar como essa medalha vale OURO pra mim, só por as experiências que consegui por lá. Ê ONHB linda!

Raíssa Muniz

Personalidades ilustres: Georgina de Albuquerque (1885-1962).

Sempre fui encantada pelas diferentes histórias que circundam cada um dos seres humanos. Alguns possuem mais reconhecimentos por seus feitos – outros têm esse reconhecimento limitado apenas a pequenos grupos de pessoas.
Pensando nisso, resolvi iniciar mais uma tag aqui no blog: “Personalidades ilustres”. Colocarei aqui as informações mais importantes sobre o histórico de vida da pessoa citada, exemplificando também o porquê da mesma ser considerada como "ilustre”.
Bem, todo mundo que acompanha o blog sabe como está o meu envolvimento com a 4ª Olimpíada Nacional em História do Brasil. Hoje, concorrendo na 5ª fase da ONHB, percebo como o conhecimento que consegui nela é algo inenarrável. Na bagagem desse tal conhecimento, fui apresentada à história de Georgina de Albuquerque, pintora, professora, desenhista e primeira presidente do sexo feminino da Escola Nacional de Belas Artes (Rio de Janeiro).
Longe de ser só uma profissional séria e comprometida, Georgina foi também uma das responsáveis da incorporação da mulher na história do Brasil (por meio de pinturas). Além disso, foi casada com um pintor piauiense, Lucílio de Albuquerque.
Conheça mais sobre ela:


Retrato de Georgina de Albuquerque (1907), por Lucílio de Albuquerque.

50 coisas que aprendi com a ONHB.



Ainda é noite de domingo, mas cá estou eu escrevendo este texto como se já soubesse exatamente o resultado que me aguarda amanhã.
Apesar do meio geral de confiança que os participantes se encontram, meu pessimismo me faz crer cegamente que fui desclassificada da quarta fase da 4ª Olimpíada  Nacional em História do Brasil. (Esquece tudo. Já é segunda e a realidade sambou na cara do meu pessimismo. A gente passou. =D)
Contudo, uma olimpíada não se faz só de competição. Listo aqui as 50 coisas que aprendi com a 4ª ONHB:
1 – O que é lógico nem sempre é o mais correto.
2 – Informação nunca é demais, mas é preciso sintetizar para produzir.
3 – É possível sim fazer novas (e boas) amizades em reuniões escolares, como as que aconteceram na ONHB.
4 – História do Brasil não é tão chato como aparentava ser.
5 – Um detalhe pode mudar tudo.
6 – Uma equipe participante na ONHB não é formada só por alunos. É constituída também por professores orientadores, funcionários e garrafas de café roubadas.
7 – É em um momento desses que você percebe quem realmente tem concentração e senso crítico e quem só “aprendia” por decoreba.
8 – Falando nisso, a ONHB também faz o participante aprender que História NÃO É decoreba.
9 – É necessária muita calma, paciência, dedicação e concentração para realizar uma prova dessas, independente da fase.
10 – Não ache estranho se você se flagrar analisando a expressão de um jumento desenhado em uma charge. Faz parte da ONHB.

Preciosidades de estante: Dom Casmurro — Machado de Assis.

Retratação de cena do livro.
IMPORTANTE:
1 - Desde que a tag "Preciosidades de estante" foi lançada, sábado passado, era de meu interesse que uma nova análise crítica fosse postada todos os sábados. Como percebi que nem sempre eu conseguiria tal feito, as análises/resenhas serão postadas no fim de semana como um todo (ou seja: ou será no sábado OU no domingo).
2 - É importante lembrar também que todas as análises/resenhas postadas aqui na tag são de minha autoria, portanto a opinião que será colocada em cada uma delas é pessoal e em momento algum estarei colocando o que o público geral acha (lógico, existirão ocasiões que minha opinião será a mesma da maioria, mas não é esse o meu objetivo).
3 - Esta análise está mais organizada que a anterior porque foi diretamente retirada de um trabalho escolar.

Dom Casmurro — Machado de Assis.
Raíssa Muniz  — análise escrita em 3 de setembro de 2012.

ÍNDICE
1 – Bibliografia
1.1: Correlação entre vida e obra
2 – Resumo do enredo
3 – Personagens
4 – Tempo
5 – Espaço
6 – Foco Narrativo
7 – Estilo
8 – Verossimilhança
9 – Movimento literário
10 – Conclusões

Conselhos de um valor qualquer... (por Déborah Simões)

O seguinte texto foi retirado do blog de Déborah Simões e é de autoria da mesma. Confira o original aqui.


"Queria escolher por você. 

Mais do que isso: queria segurar sua mão e te impedir de entrar nesse beco escuro que, pouco a pouco, vai seduzindo os seus olhos. Não é, simplesmente, pelo laço que nos une na origem, mas pelo dever de proteger quem respirou, pela primeira vez, quando eu já corria. 
Tal proteção é algo nosso, porque, apesar de Deus ter nos eleito opostas, sempre fomos cúmplices dos erros infantis uma da outra. 
E mesmo não te sabendo mais menina (e mesmo reconhecendo que, muitas vezes, foi você quem estufou o peito para me resguardar), insisto em disfarçar seus deslizes que, agora, já não são mais infantis e o pior: machucam. 
Só você sabe quais frutos deseja colher, mas talvez não entenda - ainda - que optou pelas sementes erradas. A vida esconde algumas encruzilhadas debaixo de aparentes sorrisos amigáveis: e é no ápice de tais conflitos que devemos escolher, com sabedoria e coração (conciliação muito difícil), quem nos toca com delicadeza e nos ama (a ponto de nos acolher, mesmo descalços). 
Sabedoria e maturidade não são características inerentes a ninguém: elas dependem do tamanho do nosso umbigo, no momento... Porque, convenhamos: não há nada de nobre em usurpar do outro a verdade em prol de si mesmo. Fugir daquilo que sentimos não ajuda. 
E muita calma quando a questão envolve aqueles que mostraram lealdade suficiente para nos fazer sorrir (por tanto tempo). 
Nossas decisões são eternas e, embora mudemos os ventos, elas farão, vez ou outra, barulho na porta da frente, para mostrar que tudo que fomos ainda faz parte da gente.
Te amo."

Déborah Simões

Princesinha Clarabólica

Humberto Gessinger e sua filha Clara

Não sei se foi só o fato de escutar os versos que Humberto Gessinger fez para sua filha Clara. Talvez tenha sido bem mais que isso. Resumindo com um único verbo: esbofeteou.
Imaginem passar quase três meses engolindo em porções generosas que tudo que viu, ouviu e sentiu não passava de uma farsa. Imaginem acordar todos os dias tendo como único objetivo do dia esquecer o que tinham lhe confiado durante o sono. Imaginem conseguir tudo isso. E em 02:34 de música relembrar tudo aquilo que você lutou tanto pra esquecer. Não só relembrar imagens, sons, impressões; refiro-me a sentimentos também.
E com versos tão simples, chorar. Porque por mais que a música seja singela, pura, feita de um pai para uma filha, veio em um momento que eu achava estar preparada para viver qualquer coisa sem precisar me apoiar em “quases”, em incertezas. Com palavras tão curtas, percebi que bem maior que minha ilusão anterior, era essa de achar que poderia viver alheia a qualquer fato passado.
Acho que é essa uma das armadilhas que “Parabólica” preparou para mim. Ouvi pela voz do Gessinger. Descobri que era feita de um pai para uma filha. Percebi que tinha sido feita no mesmo ano do nascimento de sua filha, em 1992. Notei que palavras como “saudade”, “cuidado”, “medo” e “ingenuidade” estavam bem mais que implícitas em cada verso proferido. E o mais simples, mas também o mais importante: a detentora de toda essa reviravolta se chama Clara.
E querendo ou não impedir, a armadilha me abraçou.

Aprovada em 5 vestibulares de Medicina dá dicas de como se preparar.


Por Raíssa Muniz

A estudante Andressa Campelo iniciou o ano de 2012 com 5 aprovações no curso de Medicina, conquistando, entre elas,  a 1ª colocação em duas federais nacionalmente reconhecidas (Universidade Federal do Piauí e Universidade Federal do Rio de Janeiro). Tendo se tornado quase que imediatamente um exemplo para os admiradores e vestibulandos de Medicina, seu nome vem se tornando cada vez mais citado entre conversas entusiasmadas de estudantes.
Em uma dessas conversas, Andressa foi apresentada por suas façanhas ao “VestMedDáDeprê”, grupo virtual que hoje conta com quase 3.000 estudantes que se unem por um único sonho: o de tornarem a Medicina algo palpável em suas vidas.
O grupo surgiu após alguns jovens sentirem a necessidade de compartilhar suas experiências enquanto vestibulandos do curso mais concorrido do país. Aos poucos, foi se tornando não só um local de compartilhamentos cotidianos, mas também uma família cada vez mais engajada em apoiar seus membros – tanto intelectual quanto moralmente. Hoje, alguns já foram aprovados no tão sonhado vestibular, levando assim palavras de incentivo aos que continuam perseverando.
Atendendo aos pedidos do grupo, busquei contato com a Andressa e realizei uma espécie de questionário, com perguntas enviadas por os próprios membros do VestMedDáDeprê.  Achando pouco fazer ela responder todas as perguntas, fiz uma “entrevista anexada”. Vocês podem conferir tudo nas linhas que seguem.

E ela persiste.


Inconstante. “Meio assim” avessa às demonstrações de afeto, acenos públicos, reconhecimentos fervorosos. Transeunte sempre da calçada contrária. Poucas vezes para, suspira, exibe sinais que viu o dito – e temido – conhecido. Constantemente, porém, segue em frente. Fisicamente, seu corpo se (i)limita a seguir seu próprio rumo, altruísta, poupando grandes desfeitas – que sempre chegam. Mentalmente, os olhos ficam lá. Lembrando de cada resquício deixado. Cada rasgo, cada rompante de personalidade. Cada toque de um quadro que – talvez infelizmente – foi pontilhado, demonstrando a maestria de seus artistas.
E ela segue. Mas talvez por não ter realmente um lugar para ir, retorna. Volta, desbota, estraga. As personagens não são as mesmas – as sensações, tampouco. Os detalhes persistem, inexistentes. Na sua mente, tudo permanece exatamente da mesma maneira. Seus olhos, porém, negligenciam-na ao mostrarem o que realmente ficou. Algumas pinturas, alguns artefatos um pouco mais valiosos. Quadros roubados, papéis destroçados. Outrora tão limpos, tão secos, tão solúveis. Agora, borrões de tinta.
Assombram-na ainda que acordada. Quando tomada pelo irrealismo da noite, cegam-lhe os olhos. Correm, ultrapassam, seguem. Tomam-lhe o sossego, a lucidez. Abre os olhos pela manhã, esvaída.
Segue mais um dia, passa novamente na calçada – sempre contrária –, encontra seus estimados, continua, procura rumos; encontra-os. Chega ao atelier dos quadros borrados, tentando esconder seus suspiros chorosos. Encara as obras que lá sossegam – tão diferentes dela. Perde-se em seus detalhes, suas técnicas, seus pontilhismos. Cega. Adormece silenciosamente, ainda atenta – não fecha os olhos, tampouco. Os quadros retornam, os traços também. Seus artistas, mortos por sinais do tempo, voltam também.
E ela persiste.

Raíssa Muniz – 27 de Julho de 2012.



Petrine.


Austera, metamorfoseada e metamorfoseante.
Cercada por pesquisas, raios-X, olhares atentos e observações descuidadas. Outrora fora pressionada, mudada e drenada até que a última gota de sensibilidade lhe fosse retirada. Hoje, era ela que drenava. Entre palavras, entre observações, entre pós-escritos. Drenava sempre.
Não parecia ser a mais confiável das mulheres; pelo contrário: aparentava uma antipatia tão desvanecedora que repelia todos os pensantes mentais de seu convívio. Sim, pensantes mentais. À primeira vista, um pleonasmo. À segunda, um enriquecimento.
Ainda conseguia chamar para si os pequenos sorridentes. Os desbravadores de corações endurecidos, os pensantes sentimentais. Há quem diga que eles também usavam da racionalidade, mas a contrapartida é rápida: Petrine não permitia que fosse interpretada racionalmente. Aos olhos da razão, era uma nefanda. Aos do coração, era uma amiga.
Talvez por facilmente se misturar entre os pequenos, ela se acomodava confortavelmente. Cruzava as pernas, buscava brinquedos, trocava ideias. Comentava sobre o último lançamento da Mattel. Demonstrava interesse por a última temporada dos Ursinhos Carinhosos. Era uma completa releitura de criança.
E ela continuava nesse impasse: aos adultos, era uma mulher fria. Aos pequenos, era uma criança tão doce e infantil como qualquer outra. Há também quem narre as conversas que mantinha com seus jovens amigos. Eu, particularmente, nunca pude constatar se eram verdadeiras.
Apenas uma vez, quando eu tentava desemaranhar minhas divagações em pleno âmbito público, ela abriu a porta por uma primeira vez naquele dia. Abriu com desenvoltura, seu pequeno corpo demonstrando segurança até para segurar a maçaneta. Olhei para aquela figurinha, esperando ver a mesma expressão fria de sempre. Seus traços herdados da família italiana, no entato, fitavam ainda outra figura – menor ainda que ela própria. Em vez de uma expressão fechada, de lábios contraídos e observações inquietantes, sua face se tomava por olhos preocupados, quase que exalando ares maternos.
Ela olhava para um dos pequenos amigos. Um menininho com seus 5 anos que apertava um carrinho contra o peito de forma tão forte que parecia machucá-lo.
Naquele momento, mais uma inquietação me veio à mente: eles estavam brincando com aquele carrinho. Ele sorriu, despediu-se, caminhou até a porta e, ao chegar até a mesma, voltou correndo. E pulou para os braços de Petrine.
Ela o segurou de forma ainda mais forte que o mesmo fizera com o carrinho, segundos antes. Abraçaram-se, trocaram cordialidades. Meus olhos se limitavam a se arregalarem.
O menino, uma vez chamado pelo pai, caminhou novamente até a porta. Dessa vez de forma mais calma, mais doce, mais natural. Deu um último aceno à pequena grande amiga. Ela acenou de volta.
De repente, pareceu que tudo havia voltado ao normal. E realmente, isso tinha acontecido. Petrine voltara a ser a mulher impassível de sempre. Lançou outros olhares observadores. Passou por mim demonstrando tanta atenção como qualquer cego daria a uma decoração de parede. Dirigiu-se até outros tantos pequeninos, levando-os pela mão.
Nesse momento, finalmente consegui parar de fitar seus olhos para perceber o resto da expressão. As crianças pulavam, conversavam animadas. Uma menininha pulou para o seu abraço, tal qual o garoto do carrinho. Ela sorriu, dando um beijo nas faces da colega mais experiente.
E pela primeira vez, constatei algo que há meses tentava observar: Petrine também sabia sorrir.


Raíssa Muniz – 19/07/12


Vestibular de Medicina: Vai desistir agora? (45 dias de reabilitação - dia 24)


Apesar da enorme demora em narrar o decorrer desses 45 dias, cá estou — totalmente culpada e com uma pilha de livros me encarando de cara fechada —para atualizar a tag.
As dificuldades, que antes me pareceram tão pesadas e invencíveis, agora nada mais são que experiências dignas de recordações. Os estudos, que outrora também pareciam (admitindo: de certa forma, ainda parecem) fortes demais para mim, já são vistos como um desafio mais saudável. As surpresas eu pude receber de forma serena. As decisões eu pude tomar sem aquela velha culpa do dia seguinte.

O Pequeno Príncipe - Meu primeiro livro


Há sete anos ganhei o meu primeiro livro de caráter mais maduro, e mesmo sem nem desconfiar, recebi com ele o passaporte para todas as aventuras que vivi até hoje. Contudo, não foi para narrar minhas viagens por entre as páginas que iniciei essas linhas que teimam em se estender pelo resto da folha. Recorri ao companheirismo do papel para mostrar como um simples livro de criança pode responder a todas as perguntas que me ocorreram em um considerável intervalo de anos.
Quando o recebi, na época com seis anos, simplesmente o abri com a ponta dos dedos e me pus a observar as figuras, ou como a própria capa informa, “as aquarelas do autor”. Após alguns dias tentando desvendar o significado de um bom número de vocábulos de meados do século XX, fui encarregada de provar ao resto da família que eu entendia perfeitamente todas as expressões, todas as palavras e principalmente, tudo o que o livro estava tentando me passar através daquelas palavras que eram rodeadas de desenhos desconhecidos, representando um garoto magricela de cabelos dourados e sua expressão misteriosa. Como o combinado, provei que pelo menos as palavras tinham algum significado para mim, fazendo assim um resumo de pouco mais de vinte linhas (porque até a quantidade era cobrada).
Após a entrega do “certificado de leitura”, fui recompensada com um prêmio: mais um livro e consequentemente, mais um resumo. Às vezes chego a pensar que é por isso que tenho tanto amor por livros e pelo ato de escrever: quando criança, eu nunca era recompensada com outra coisa quando tinha um livro à disposição para me servir de prêmio.
Apesar de tudo, algo naquele primeiro livro ainda era motivo de indagações. Talvez fosse a linguagem um tanto desconhecida para uma criança de seis anos, ou talvez fosse o livro em si, o seu significado. Agora, sete anos depois, posso responder com certa segurança que foi o próprio significado que não me agradou no princípio, principalmente porque era um texto de caráter extremamente literário, onde a interpretação é que daria rumo àquela história de criança. Consequentemente, não voltei a lê-lo sem estar preparada para pensar demasiadamente sem obter nenhum resultado e apesar de todos dizendo que minha interpretação estava correta, a criança curiosa que existia (e existe) dentro de mim sabia que se contentar com o que todos concordavam não era seguro.
Logo, depositei o polêmico texto em minha estante e apesar de vez por outra, abri-lo e folhear suas páginas, nunca me arrisquei a julgá-lo novamente. Coincidentemente, foi nesse período que ele esteve guardado que toda a sua história passou na frente dos meus olhos, e embora nada tivesse acontecido exatamente como no livro, minha mente ainda teimava em fazer associações. Foi assim que, finalmente, entendi o que o Pequeno Príncipe estava tentando me dizer. Cheguei a interpretar e associar tanto aquele livro que até mesmo a dedicatória fazia sentido para mim, e, diga-se de passagem, esse sentido não era pouco. Por alguns minutos — ou melhor, por algumas linhas —, eu sentia que o autor, Antoine de Saint-Exupéry, tinha entrado em minha própria mente para escrever essas palavras: “[...] Peço perdão às crianças por dedicar este livro a uma pessoa grande. Tenho um bom motivo: essa pessoa grande é o melhor amigo que possuo. Entretanto, tenho um outro motivo: essa pessoa grande é capaz de compreender todas as coisas, até mesmo os livros de criança. Tenho ainda um terceiro: essa pessoa mora na França e ela tem fome e frio. Ela precisa de consolo. Se todos esses motivos não bastam, eu dedico então este livro à criança que essa pessoa grande já foi. Todas as pessoas grandes foram um dia crianças — mas poucas se lembram disso. [...]”.
Foi assim que a cada capítulo uma informação nova era associada a um fato do cotidiano. Dessa maneira também descobri que dentro de cada um de nós existe um Pequeno Príncipe a procura de um carneiro, tentando proteger sua rosa dos males do mundo externo e embora a lógica aponte que as crianças possuem mais características desse pequeno aventureiro, ainda teimo em rebater que são os adultos os maiores portadores.
Apesar de tudo, nada foi tão significativo como a frase dita pela raposa ao Pequeno Príncipe: “Só se vê o bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos”. Foi com essa frase que, de repente, dúvidas de um ano inteiro foram respondidas de maneira unânime, e mais uma vez, achei respostas únicas em um livro de fábulas infantis.

Raíssa Muniz — 12.04.11

PS: Já se passou 1 ano desde que este texto foi escrito, mas a opinião que retratei nele está ainda mais forte agora.

Será que vai dar certo? (45 dias de reabilitação - dia 5)



            Começo esse texto com a seguinte indagação: e agora, será que vai dar certo?
           Será que toda aquela euforia, todo aquele bom humor, toda aquela vontade, esvaíram-se com uma simples noite de sono?
           Hoje tudo pareceu tão utópico, tão errado... Não que eu tenha me arrependido da promessa que fiz, mas entrar em abstinência daquela vida “ toda errada” que eu levava está me rendendo muitas e péssimas noites de sono.
           Sim, noites de sono mesmo, não só o período pré-adormecer. As coisas andam tão confusas, tão desgovernadas, tão irreais, que até em sonhos essas indagações me visitam.
           “Será que o que eu fiz foi o certo?”, “Será que vai ser o melhor pra mim?” e a última, que me rendeu boas horas de reflexão: “Será que vai fazer diferença pra alguém?”
           Sim, vai fazer. Só não é agora, já que não está fazendo diferença (positiva) nem pra mim ainda. Acho que ficar nessa de “Ah, ninguém se importa” ou “Nossa, pessoa xis não ligou para o que está acontecendo” não te leva a nada. Sério, sério mesmo. Não espere opiniões positivas em tudo que for fazer. Aliás, não espere opiniões positivas. Quando o foco é se desapegar, a sua já basta. 


Raíssa Muniz


45 dias de reabilitação.

          
          16/06/12. Um marco para 2012, sem dúvidas. Foi esse o dia que decidi me desintoxicar de tudo aquilo que me causava agonia. Com essa data também tive que repensar alguns atos, afastar-me de coisas que eu nunca imaginava sem. Não que isso possa ser classificado naquela categoria de “agonia”, como citei anteriormente. Essas atitudes, creio eu, ajudarão o coração a pensar. Ajudarão a mente a perceber, a sentir, a se expressar. Sim, pode até ser que eu esteja errada, que tudo ficasse melhor da maneira que estava. Mas convenhamos, bem melhor quebrar a cara tendo feito algo que acreditava que se decepcionar com algo que nunca acreditou, em instante algum.
Acho que foi nesse dia também que eu tive coragem de me encarar no espelho e perceber o quão infantil e frívola eu estava sendo. Com os estudos, com os amigos, com meus sentimentos, com quem acreditava em mim, com quem não acreditava, com quem me esnobou, com quem me acolheu... Enfim, com a vida.
Acho também que essa data foi só uma desculpa preguiçosa do meu cérebro pra começar uma mudança no momento propício. Afinal, 16, sábado, férias... E recomeço (mais uma vez).
Propício ou não, vou (tentar) organizar minha vida aos poucos.
Procurar os meus objetivos com mais afinco, esquecer o que me faz mal com mais veemência.
Estudar mais (sim, aproveitar todo o tempo que perdi quando, coincidentemente, eu estava perdida dentro de mim mesma). Viver mais a vida real, esquecer um pouco esse complexo virtual que me cerca.
Ler mais livros, conhecer mais pessoas, manter minha vida organizada e ser feliz em toda e qualquer oportunidade que possa surgir.
Utópico? Sim, pode até ser, mas como todas as outras coisas da minha vida, vou poder erguer a cabeça e dizer: “Pelo menos eu tentei”.
E que venham esses 45 dias (16/06/12 à 31/07/12), que venham mais desafios e que venha minha coragem também pra cumprir tudo que eu me prometi.
Se não der certo? Digo e repito: pelo menos eu tentei.

Raíssa Muniz

Acontecimentos (fragmento)


Dizem que certos acontecimentos podem mudar completamente o rumo de uma vida. Dizem que alguns fatos podem apagar memórias, ou pelo menos, entorpecê-las inconscientemente. Cresci acreditando nisso, e pra ser sincera, não tirei muito proveito dessa falsa crença.
As lembranças, sejam elas quais forem, sempre estarão presentes em novas situações da sua vida. Quando trazem sentimentos negativos, são aceitas pela mente com um consentimento repulsivo, um paradoxo digno de poesia. O que acontece, infelizmente, é quando chegam em forma de bons sentimentos, o que já se foi e não pode ser trazido de volta se torna nostálgico, e aí, até o que você imaginava ser o melhor de sua vida, acaba trazendo uma pontada de dor. 

Raíssa Muniz - 2011 (fragmentos)

Conto: Carta de Amor



  Então os tão comentados dez anos de casamento finalmente vieram à tona. A manhã surgia calma, ignorando a data especial tal como Ele fizera horas antes. Os passarinhos cantavam alegremente na janela da cozinha, iluminando o dia que seria perfeito para Ela. A ansiedade que emanava através de calor do corpo d’Ele era tão forte como o fogo que crepitava no forno, fritando o peru do tão esperado banquete. A alegria que Ela sentia naquele momento era poderosa e seu coração palpitava tal como o coração d’Ele fazia ao assistir a um jogo de futebol.
  Os passos d’Ele se aproximaram e como de costume, Ele abraçou a esposa por trás, dando-lhe um beijo de bom-dia e voltando-se para a comida, sem falar mais nada. O rosto d’Ela corou e seus olhos atentos fitaram as rosas que cresciam lá fora. O que Ela pensava era que Ele provavelmente estava guardando segredo para uma futura surpresa. Tudo bem. Deixaria assim e arrumaria o desjejum d’Ele.
  O olfato apurado que Ele tinha desde menino se alertou ao sentir o cheiro desconhecido da ave assando no fogo e seus olhos se voltaram para a mulher, com um ar de indagação fora do comum.
  — Sua mãe vem comer aqui hoje? — Perguntou fitando-a.
  Ela sorriu assentindo e voltou-se para o fogão. Como pudera duvidar d’Ele? Aquela pergunta só confirmava que Ele estava tramando algo e queria a presença da sogra para provar como era um bom moço.
  Ele fitou as costas da esposa, ainda sem entender os fatos. Coçou a cabeça e perfurou a ervilha que decorava o café da manhã com o garfo. Pegou uma das colheres que a mulher deixara ali na mesma e virou-a, olhando-se no verso. Como estava velho. Como estava acabado. Como os anos passavam rápido. Os anos...
  Não, Ele não recordou a data especial. Voltou o olhar para cima e tentou procurar motivos na alegria inesperada da esposa. Como ela poderia estar tão feliz com tantas dívidas? Ele desempregado. Ela apenas com bicos que fazia como costureira.  O que seria aquilo então?
  Seus pensamentos atravessavam as montanhas, tentando desviar o foco daquela confusão e ao mesmo tempo achar uma solução para aquilo tudo. Seus passos o carregaram de volta para a cama, onde Ele olhou o calendário com uma apreciação vazia. Dia 31 de Outubro.
  Dia da grande final do circuito de futebol. Dia 31 de Outubro.
 — Ah não, dia 31 de outubro! — Ele exclamou, levando as mãos à cabeça.            Finalmente se recordara. O aniversário de casamento deles. O sonho da vida d’Ela.
 Seu rosto ruborizou-se e seus olhos fitaram o vazio enquanto a imagem era borrada por uma lágrima intrusa que lavava-lhe o rosto suado. Ele esquecera. Não preparara nada. Não tinha dinheiro. Não tinha presente. Nem sequer atenção Ele tinha para dar a ela. Não tinha rosas. Não tinha belas palavras, nem sorrisos galanteadores. Tinha apenas a Si mesmo, e ainda assim fugia do próprio corpo, da própria mente. Perdera a noção de tempo e da realidade. Estava tudo acabado para ele, então. Velho, esquecido, desempregado e abatido. Um pacote e tanto que Ela aguentara por dez anos.
  Seu corpo ergueu-se e Ele se dirigiu ao guarda-roupa deles, abrindo as portas do lado d’Ela em busca de alguma pista. Foi aí que o avistou.



  O batom.

  Aquele batom que custara, na opinião d’Ele, os olhos da cara e que era desnecessário. O batom que desfez a economia do casal e fê-la sacrificar suas lágrimas em cima da mesa do jantar, enquanto Ele reclamava sobre tudo da sua vida, mostrando como ela era arrogante, soberba e descuidada. Sua boca emanava o hálito de bêbado enquanto o álcool realizava o verdadeiro efeito na sua cabeça. Ele abriu a boca por uma última vez naquela noite e disse o que estragou o mês d’Ela:
  — Não adianta. Nenhum batom do mundo vai te deixar linda novamente.     Aquela por quem me apaixonei se perdeu junto com as folhas que cobriam o chão no nosso casamento. Espero que tenha consciência e pare de tirar o nosso sustento investindo em algo irreparável. Tu és feia, não há como mudar isso.
  E Ela deixou a cabeça pender para baixo, enchendo um prato branco com suas lágrimas amargas. Ele caminhou com passos rápidos até a porta e a fechou com ferocidade, trancando-a em seguida e esmagando as plantas que Ela plantara com tanto carinho no jardim.
  Tudo isso por causa de um batom.
  E Ela não desistira. No outro dia, lá estava fazendo o café d’Ele de novo, e na mesinha, o batom estava depositado perto do vaso de flores, junto com uma lista telefônica e o número das suas inúmeras comadres. Venderia o batom e pegaria o dinheiro para comprar comida. Não ligaria mais para si mesma. De quê adiantaria aquilo tudo? Onde estava com a cabeça? Talvez em Marte, ou talvez... Talvez estivesse na vida que poderia ter tido se não tivesse se casado com Ele. E aí tudo estaria diferente.

  Ele continuou a fitar o batom, entristecido. Não achava Ela feia, falara apenas para se sentir superior. Era ruim para seu ego saber que dependia de uma mulher para viver. Era cabra macho, não uma florzinha. Seu lábio inferior pendeu e ele caminhou até o objeto de sua briga. Pegou-o e virou para a cama, onde a colcha branca emanava um cheirinho perfumado que só Ela conseguia deixar lá.
  Suas mãos carregaram o batom até a colcha e começando do lado d’Ele, o recomeço se personificou em forma de palavras.

  “Sabes como eu te amo, minha querida. Não precisa se preocupar com aquelas palavras inúteis que lhe joguei na cara um dia. Não precisa derramar suas preciosas lágrimas por mim. Eu não mereço tanto. Não precisa arrumar a casa com tanto cuidado depois de um sábado a noite só pra horas depois ver ela destruída por um bêbado descontrolado. Não precisa sacrificar seus dedos fazendo costuras para nos sustentar. Não precisa viver como uma escrava. Liberta-te. Viva o que não viveu ainda e sinta o que nunca sentiu comigo. Vou deixar meus passos insanos me levarem para outro rumo. Os mesmos passos que me levaram a bater na porta da tua casa um dia. Os mesmos passos que correram na direção contrária do teu amor e traíram-te com uma sombra desconhecida. Os mesmos passos ingratos que por tantas vezes tiraram o rastro dos teus pés de minha vida. Os mesmos passos que pisaram em cima do teu amor. São esses passos que vão me levar pra longe. Passos arrependidos.
  Não sei o que deu em mim hoje para ter acordado com esse sentimentalismo doentio. Talvez Deus tenha finalmente perfurado minha alma e deixado vazar todas as minhas inseguranças. Talvez teus pedidos tenham sidos atendidos e hoje pode ser o melhor dia de tua vida. E passará ele sem mim. Finalmente se livrará desse homem tirano. Agora tentarei reconstruir a Tua vida. Cairei ao chão como minhas lágrimas estão agora e andarei com meus próprios pés. Peço que não me carregue. É só assim que conhecerei a textura dos espinhos e a picada das formigas que encontrarei pelo caminho. Mas Tu deves descansar. Se eu pudesse construiria um banquinho acolchoado com a textura mais macia para você finalmente encontrar um conforto. Pelo menos o conforto dos pés, já que minha mente insana nunca estruturou a do resto do corpo. O conforto da mente. O conforto da alma.
  Viva. Apenas viva.
  Não peço que esqueças esses dez anos que deixou a vida passar ao meu lado. Minha covardia não deixa eu te pedir isso. Por favor, me promete uma coisa? Não esquece de mim. Lembra dessa minha cara de preguiçoso e fica feliz quando arrumar um homem melhor. Compara minhas ações com a de um cachorro, mas por favor, não esquece. Não esqueça do que vivemos, porque isso te fortificará. Não esquece de quando tínhamos um amor lúcido. Não esquece que eu te amei.”

  Ele terminou a carta de amor e transformou aquele batom, que antes era objeto de fúria, no instrumento do melhor presente que pudera dar a Ela em dez anos. Jogou-o de lado e abriu a janela, pulando para um novo horizonte e prometendo a si mesmo que passaria outros dez anos sofrendo para pagar os seus pecados.

  Ela surgiu no quarto logo depois e com os mesmos olhos atentos, encontrou a carta e a transformou em jóia rara quando borrou as palavras d’Ele com suas lágrimas, cobrindo-se com o último vestígio daquele amor. Seu único e verdadeiro amor.


Raíssa Muniz; 25.11.10

OBS: Sim, o texto ainda contém erros gramaticais. Escrevi o mesmo quando tinha 12 anos (não transferindo os erros para a idade, não entendam dessa forma), ou seja, já se passaram uns bons 2 anos e eu nunca voltei para editar o que coloquei aqui. Perdoem-me por qualquer erro que tenha ficado mais acentuado. 


Receita para curar a Decepção (ocasionada por Falsas Promessas).



“Promessa”, segundo o dicionário é o ato ou efeito de prometer, promissão. Coisa prometida. Voto, juramento. Contudo, se fosse para fazer uma análise agora, levando em conta o verdadeiro uso dessa palavra, poderíamos descrevê-lo assim: Ato ou efeito de enganar. Na exceção: poucos seres concordam em número e gênero com essa palavra. Nos primórdios era sinônimo de comprometimento. Hoje é de mentira e desleixo. Promete-se para esquecer, acalmar ou ludibriar. É uma palavra que tem seu significado alterado pelo mau uso contínuo. Para exemplificar, abra na página correspondente ao número da sua casa/apartamento, leia o parágrafo da decepção, aquele que começa com a inicial do enganador e escolha uma entre as várias promessas que já te fizeram e nunca cumpriram. Ah, tudo isso no Livro da Vida, que fica na prateleira que traz a sua idade na Grande Biblioteca do seu coração. Se não gostar de procurar tanto, olhe pra pessoa que estiver mais perto de você neste momento e estreite os olhos. Geralmente os sintomas de “falsas promessas” aparecem após duas horas de a vítima ter ingerido a substância. Para tratar, traga um calendário e deixe o Tempo marcar o dia certo. Nada de ir ao hospital, geralmente o estado piora. Quem está com essa doença sempre acha que vai morrer e se decepciona mais uma vez quando o médico anuncia que não é nada. Também não tente curar o paciente com palavras avulsas. Elas também estão sendo desvalorizadas no Mercado da Cura. São vendidas por 1,99 em qualquer banca de jornal, contendo todos os conselhos para todas as situações da sua vida. Não recorra a essa categoria das letras. Se realmente quiser verbalizar ou escrever algo, que o faça com o coração. É essa a diferença entre palavras avulsas e palavras verdadeiras: uma quer ajudar, já a outra só que o seu dinheiro.
Outra recomendação: não jogue na cara do paciente que já sabia o que ia acontecer. Isso só ocasionará em mais dias de auto-sofrimento, onde o mesmo terá a Decepção de nunca ter visto nada. Esconda-o por alguns dias, solte-o dentro de casa e não se assuste quando topar com ele embaixo da sua pia ou ao lado do fogão. Geralmente os mais contidos ficam na cama, enrolados em um lençol enquanto desconfiam do Travesseiro também estar prestes a decepcioná-lo. Não se assuste com situações inusitadas; elas sempre irão acontecer. Apesar de tudo, se realmente quiser medicá-lo com coisas materiais, darei uma dica. Contudo, aviso logo: ao fazer isso você também está prestes a se decepcionar.
Leve o paciente a um abrigo, podendo esse ser crianças, idosos ou animais. Mostre como é a vida lá e deixe-o sozinho no âmbito por algumas horas. Traga algum morador para socializar com ele. Se for um cachorro, faça-o lamber a cara do visitante sem pudor algum. Se for uma criança, peça que dê um abraço. E se for um idoso, pergunte-o por uma lição de vida. Não mostre suas intenções ao fazer isso, deixe que o paciente perceba sozinho.
Não diga pra ninguém, nem mesmo pr’os moradores, por que o levou ali. Deixe que a própria Vida mostra. A informação deve ser passada indiretamente, sem que ele desconfie, sem doer ou causar impacto. Contudo, quando ela chegar, você mesmo será surpreendido. O paciente, antes tão vulnerável, conseguirá recuperar suas forças novamente e vai te deixar com um olhar bestificado.
Ah, lembra de quando eu disse que você mesmo ia se decepcionar ao fazer isso? Então, é porque depois de tanta coisa, ninguém leva um doente a um abrigo esperando que ele se cure lá. Você também não devia acreditar. Pois é, olha aí sua Decepção.

Raíssa Muniz, 19 de Julho de 2011.

Uma em seis (por Cecília Maria)


- Você acredita em alma gêmea?
- Acredito que ninguém nasce para ficar sozinho. Há 6 bilhões de pessoas no mundo, e para cada uma delas existe sempre alguém disposto a ouvi-la, alegrá-la, consolá-la e amá-la. Alguém que vai fazer dos momentos felizes os mais perfeitos e dos ruins, menos difíceis. Alguém que vai sorrir ao vê-la e dar aquele abraço. Alguém capaz de depositar nela total confiança e conversar sobre tudo. Alguém que mesmo depois de ouvir coisas absurdas e dolorosas durante um desentendimento ainda vai te olhar e te amar da mesma maneira.  Alguém que nunca vai duvidar e nem abusar de sua confiança. Alguém que vai protegê-la do frio e arriscar-se por ela. 6 bilhões de pessoas. 6 bilhões de almas. E algumas vezes, você só precisa de uma.


Cecília Maria (cecismaria.blogspot.com) 


Achei esse texto lindo e o retirei do blog da Cecília. Vocês podem acessá-lo com esse link: http://cecismaria.blogspot.com.br/2012/02/uma-em-seis.html

Meu maior acerto, meu maior erro... (por Gui Tritany)

É estranho pensar que tudo mudou, e continuar com aquele gostinho, querendo cada vez mais...Quando a gente se viu, foi a comoção, choramos juntos por umas horas, e a cada segundo, sentindo um novo calor, fruto de um abraço tão gostoso, que nunca vai deixar minha emoção. É porque amar é tão doído, que vamos nos largar no mundo, sentindo nossas dores até que a saudade as transforme em sorrisos. Não estou feliz. Claro que vai doer demais, mas não sou eu quem manda, e foi tudo minha culpa. Eu tenho é que lutar pra mudar, pra ser sincero sem machucar, pra ser honesto e não me afastar, tenho que amá-la em silêncio... Se eu pudesse tê-la de volta agora, talvez as coisas fossem diferentes, mas acho que é assim que se cresce, e é assim que ela quer crescer. Amor não vai faltar, e eu estarei esperando o seu coração esquecer essa dor, pra se juntar ao meu, de novo.Daqui pra frente, não sou mais eu. Tenho que me descobrir, e a viagem há de ser longa e intensa...Quando eu voltar, mais moreno e cansado, a gente se liga.

G. Tritany





P.S: Vi esse texto no blog do Gui Tritany (http://eletrosaladestar.blogspot.com.br/2011/02/meu-maior-acerto-meu-maior-erro.htmle achei lindo. Está aí agora, reblogado com os devidos créditos.

Carta para uma amiga


Vou te dizer uma coisa, ou melhor, repetir algo que você já sabe: quem te ama de verdade, nunca te abandona. E se abandona, é porque aquele amor não era tão verdadeiro assim. Quem ama de verdade corre atrás, se preocupa e procura saber como vai a vida do outro. Mesmo quando a própria vida está indo por água abaixo. Quem ama de verdade ri, manda mensagens e te faz feliz. Mas tem aquele que ama, mas tem medo do que pode acontecer. Tem aquele que ama e mente pra si mesmo que tudo é ilusão. Não desista do que está acontecendo, do que aconteceu ou do que ainda vai acontecer. A vida tá aí pra ser vencida, pra ser conquistada e pra ser a base de um belo sorriso. Acredite, isso vai acontecer. Não veja isso como mais palavras vazias de qualquer um, por favor. Sei como palavras machucamsei como você está machucada. E sei também que dizer que te amo e que amiga é pra isso não vai ajudar em nada. Mas estou tentando, e vou continuar assim até você perceber que uma pessoa não pode mudar sua vida quando não é pra melhor. Não vou ficar quieta vendo você sofrer, e tenha certeza que vou dizer isso até você cansar, ou melhor, até eu cansar. Amizade está aí pra fortalecer, pra ajudar, pra abraçar e pra acolher. Posso não ter feito nada disso ainda, mas senti o suficiente pra ter orgulho de te ajudar e dizer: amiga, eu te amo. Tô aqui na luta, na queda e na vitória. Não sou suficientemente digna pra falar algo assim pra uma pessoa, mas quando falo, é porque vale a pena. Cuide-se

Raíssa Muniz - 2011.

Ainda vai valer a pena.




E a gente acredita. E tenta crer, tenta ver, tenta sentir. Ou melhor, tenta não sentir. A gente tenta sorrir. Tenta arranhar o ar com os dentes. Tenta ver além do que as coisas aparentam. Tenta ser mais forte, mais feliz, mais corajosa. Tenta viver.
Sim, a gente tenta passar o tempo com outras coisas. Tenta pegar mais livros pra ler, tenta se apegar mais aos estudos. A gente até consegue — é verdade, só por alguns dias.
Sabe, a gente tenta continuar. Tenta esquecer, fingir que nunca houve nada. Tenta conhecer mais pessoas, mais sorrisos, mais situações. Ou pelo menos fingir que estava conhecendo.
O que a gente não tenta é esquecer aquelas lembranças. E dói. Como dói. Mas não adianta negar. Você não pretende esquecer algo que, mesmo doloroso, te fez feliz um dia. Pode até dizer à todos que está esquecendo, pode até dizer à si mesma, todos os dias, que o esquecimento está próximo. Mas não esquece.
Não se culpe se algo aparentemente prejudicial se infiltrou na sua cabeça. Ainda: não se culpe se essa coisa “prejudicial” te fez feliz um dia (ou ainda faz). Não se culpe se a esperança ainda teima em crescer no seu peito.
Um dia você entende. Um dia você percebe o que te levou a viver tudo isso.

Raíssa Muniz - 04/06/12