O Pequeno Príncipe - Meu primeiro livro


Há sete anos ganhei o meu primeiro livro de caráter mais maduro, e mesmo sem nem desconfiar, recebi com ele o passaporte para todas as aventuras que vivi até hoje. Contudo, não foi para narrar minhas viagens por entre as páginas que iniciei essas linhas que teimam em se estender pelo resto da folha. Recorri ao companheirismo do papel para mostrar como um simples livro de criança pode responder a todas as perguntas que me ocorreram em um considerável intervalo de anos.
Quando o recebi, na época com seis anos, simplesmente o abri com a ponta dos dedos e me pus a observar as figuras, ou como a própria capa informa, “as aquarelas do autor”. Após alguns dias tentando desvendar o significado de um bom número de vocábulos de meados do século XX, fui encarregada de provar ao resto da família que eu entendia perfeitamente todas as expressões, todas as palavras e principalmente, tudo o que o livro estava tentando me passar através daquelas palavras que eram rodeadas de desenhos desconhecidos, representando um garoto magricela de cabelos dourados e sua expressão misteriosa. Como o combinado, provei que pelo menos as palavras tinham algum significado para mim, fazendo assim um resumo de pouco mais de vinte linhas (porque até a quantidade era cobrada).
Após a entrega do “certificado de leitura”, fui recompensada com um prêmio: mais um livro e consequentemente, mais um resumo. Às vezes chego a pensar que é por isso que tenho tanto amor por livros e pelo ato de escrever: quando criança, eu nunca era recompensada com outra coisa quando tinha um livro à disposição para me servir de prêmio.
Apesar de tudo, algo naquele primeiro livro ainda era motivo de indagações. Talvez fosse a linguagem um tanto desconhecida para uma criança de seis anos, ou talvez fosse o livro em si, o seu significado. Agora, sete anos depois, posso responder com certa segurança que foi o próprio significado que não me agradou no princípio, principalmente porque era um texto de caráter extremamente literário, onde a interpretação é que daria rumo àquela história de criança. Consequentemente, não voltei a lê-lo sem estar preparada para pensar demasiadamente sem obter nenhum resultado e apesar de todos dizendo que minha interpretação estava correta, a criança curiosa que existia (e existe) dentro de mim sabia que se contentar com o que todos concordavam não era seguro.
Logo, depositei o polêmico texto em minha estante e apesar de vez por outra, abri-lo e folhear suas páginas, nunca me arrisquei a julgá-lo novamente. Coincidentemente, foi nesse período que ele esteve guardado que toda a sua história passou na frente dos meus olhos, e embora nada tivesse acontecido exatamente como no livro, minha mente ainda teimava em fazer associações. Foi assim que, finalmente, entendi o que o Pequeno Príncipe estava tentando me dizer. Cheguei a interpretar e associar tanto aquele livro que até mesmo a dedicatória fazia sentido para mim, e, diga-se de passagem, esse sentido não era pouco. Por alguns minutos — ou melhor, por algumas linhas —, eu sentia que o autor, Antoine de Saint-Exupéry, tinha entrado em minha própria mente para escrever essas palavras: “[...] Peço perdão às crianças por dedicar este livro a uma pessoa grande. Tenho um bom motivo: essa pessoa grande é o melhor amigo que possuo. Entretanto, tenho um outro motivo: essa pessoa grande é capaz de compreender todas as coisas, até mesmo os livros de criança. Tenho ainda um terceiro: essa pessoa mora na França e ela tem fome e frio. Ela precisa de consolo. Se todos esses motivos não bastam, eu dedico então este livro à criança que essa pessoa grande já foi. Todas as pessoas grandes foram um dia crianças — mas poucas se lembram disso. [...]”.
Foi assim que a cada capítulo uma informação nova era associada a um fato do cotidiano. Dessa maneira também descobri que dentro de cada um de nós existe um Pequeno Príncipe a procura de um carneiro, tentando proteger sua rosa dos males do mundo externo e embora a lógica aponte que as crianças possuem mais características desse pequeno aventureiro, ainda teimo em rebater que são os adultos os maiores portadores.
Apesar de tudo, nada foi tão significativo como a frase dita pela raposa ao Pequeno Príncipe: “Só se vê o bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos”. Foi com essa frase que, de repente, dúvidas de um ano inteiro foram respondidas de maneira unânime, e mais uma vez, achei respostas únicas em um livro de fábulas infantis.

Raíssa Muniz — 12.04.11

PS: Já se passou 1 ano desde que este texto foi escrito, mas a opinião que retratei nele está ainda mais forte agora.

2 comentários:

  1. Como primeiro livro, eu entrei na magia de Hogwarts que me encantou desde o primeiro momento, fazendo-me trilhar meu caminho guiado pelas palavras tão cativantes em cada livro que li até hoje. Mas, assim como para você, O pequeno príncipe também foi especial para mim. Acho que quem consegue entender e sentir a beleza desse pequenino, está no caminho certo. Parabéns pelo texto!

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  2. Obrigada, Aldenora. Também tenho uma admiração especial por Harry Potter que vem desde pequena.
    Um abraço

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