Receita para curar a Decepção (ocasionada por Falsas Promessas).



“Promessa”, segundo o dicionário é o ato ou efeito de prometer, promissão. Coisa prometida. Voto, juramento. Contudo, se fosse para fazer uma análise agora, levando em conta o verdadeiro uso dessa palavra, poderíamos descrevê-lo assim: Ato ou efeito de enganar. Na exceção: poucos seres concordam em número e gênero com essa palavra. Nos primórdios era sinônimo de comprometimento. Hoje é de mentira e desleixo. Promete-se para esquecer, acalmar ou ludibriar. É uma palavra que tem seu significado alterado pelo mau uso contínuo. Para exemplificar, abra na página correspondente ao número da sua casa/apartamento, leia o parágrafo da decepção, aquele que começa com a inicial do enganador e escolha uma entre as várias promessas que já te fizeram e nunca cumpriram. Ah, tudo isso no Livro da Vida, que fica na prateleira que traz a sua idade na Grande Biblioteca do seu coração. Se não gostar de procurar tanto, olhe pra pessoa que estiver mais perto de você neste momento e estreite os olhos. Geralmente os sintomas de “falsas promessas” aparecem após duas horas de a vítima ter ingerido a substância. Para tratar, traga um calendário e deixe o Tempo marcar o dia certo. Nada de ir ao hospital, geralmente o estado piora. Quem está com essa doença sempre acha que vai morrer e se decepciona mais uma vez quando o médico anuncia que não é nada. Também não tente curar o paciente com palavras avulsas. Elas também estão sendo desvalorizadas no Mercado da Cura. São vendidas por 1,99 em qualquer banca de jornal, contendo todos os conselhos para todas as situações da sua vida. Não recorra a essa categoria das letras. Se realmente quiser verbalizar ou escrever algo, que o faça com o coração. É essa a diferença entre palavras avulsas e palavras verdadeiras: uma quer ajudar, já a outra só que o seu dinheiro.
Outra recomendação: não jogue na cara do paciente que já sabia o que ia acontecer. Isso só ocasionará em mais dias de auto-sofrimento, onde o mesmo terá a Decepção de nunca ter visto nada. Esconda-o por alguns dias, solte-o dentro de casa e não se assuste quando topar com ele embaixo da sua pia ou ao lado do fogão. Geralmente os mais contidos ficam na cama, enrolados em um lençol enquanto desconfiam do Travesseiro também estar prestes a decepcioná-lo. Não se assuste com situações inusitadas; elas sempre irão acontecer. Apesar de tudo, se realmente quiser medicá-lo com coisas materiais, darei uma dica. Contudo, aviso logo: ao fazer isso você também está prestes a se decepcionar.
Leve o paciente a um abrigo, podendo esse ser crianças, idosos ou animais. Mostre como é a vida lá e deixe-o sozinho no âmbito por algumas horas. Traga algum morador para socializar com ele. Se for um cachorro, faça-o lamber a cara do visitante sem pudor algum. Se for uma criança, peça que dê um abraço. E se for um idoso, pergunte-o por uma lição de vida. Não mostre suas intenções ao fazer isso, deixe que o paciente perceba sozinho.
Não diga pra ninguém, nem mesmo pr’os moradores, por que o levou ali. Deixe que a própria Vida mostra. A informação deve ser passada indiretamente, sem que ele desconfie, sem doer ou causar impacto. Contudo, quando ela chegar, você mesmo será surpreendido. O paciente, antes tão vulnerável, conseguirá recuperar suas forças novamente e vai te deixar com um olhar bestificado.
Ah, lembra de quando eu disse que você mesmo ia se decepcionar ao fazer isso? Então, é porque depois de tanta coisa, ninguém leva um doente a um abrigo esperando que ele se cure lá. Você também não devia acreditar. Pois é, olha aí sua Decepção.

Raíssa Muniz, 19 de Julho de 2011.

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