Ando precisando assumir a transitoriedade. E preciso compreender
que apesar do sentido que demos à ela, tempo curto não é sinônimo de inverdade.
Ora feliz, ora cansada, às vezes caio na falácia de esquecer quanta humanidade carrego
em minha essência. O que eu quis dizer é que quase sempre me escapa da memória
que já conheci o amor, mesmo com a pouca idade, mesmo escutando de cor e
salteado que ele só chega na maturidade – e às vezes nem chega. Quão sortuda
sou por ter 21 anos e saber que ele existe. Já fui visitada por ele em momentos espaçados
da minha vida, tendo hospedado esse sentimento ora por meses, noutros tempos
por anos. Para mim, não é preciso persistir materialmente até hoje para ter
sido amor. Foi amor exatamente pelos instantes que ficou. É amor de maneira
forte mesmo após ter fechado seu ciclo. Talvez o grande “boom” de muita paz que
veio à minha vida foi compreender esse modo de enxergar a vida: não ficou para
ser divulgado, muitas vezes não precisa ser alongado em cinco ou dez anos.
Algumas vezes, como picada pela literatura que sou, me pego a
confabular sobre o futuro. A veia dramática e o catalisador da metáfora me
fazem desesperar ao pensar na vida que muitas vezes digo desejar: morando em um
apartamento, provavelmente sozinha, com gatos e possibilidade de escrever meus
textos sem perturbação. Gosto muito de ficar sozinha, até porque fui criada em
um ambiente onde só existiam – quando existiam – adultos. Precisei aprender a
ser minha própria companhia. Apesar de gostar, hoje, depois de muita elaboração,
já entendo que talvez essa não seja a única possibilidade que rabisco em minhas
linhas. E que se acontecer, não será pelos pingos catastróficos que atribuo à
minha personalidade introvertida.
O que venho tentando dizer, afinal, não parte da ordem do
compreensível. Há dias andava macerada pela necessidade de escrever, mas não
qualquer texto. Precisava escrever sobre amor. Técnica já muito conhecida entre
muitos escritores é o de ler tantos outros textos sobre o tema para se inspirar
por onde começar. Outra que vai na contramão é a de se privar dessas fontes
para tentar extrair algo mais “puro” (embora eu considere impossível, visto que
a dialética persegue o escritor). Tentei ambos. Falhei. Nem lendo sobre, nem me
privando, consegui elaborar. Já impaciente, decidi sentar em frente ao
computador e escrever qualquer coisa. Sem métrica. Sem roteiro. Como, na
verdade, sempre fiz. A conclusão não é poética, não tampona nenhuma falta, não
faz incomodar menos o que tenho a dizer, mas me orienta: pra escrever não
precisa prescrever. Ao que retornamos ao início do texto: pra amar também não.
6 de outubro de 2019
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