Eu perco o chão, o corte, a cesta, o caco. Eu perco a hora,
a hera, o hall, o hiato. Eu perco o sono, o sopro, o soco, o saco. Só tenho
sonho, o saldo, o susto, o sábado. Tenho a meta, a mancha, a mosca, o marco.
Ganhei o título, a tela, a touca e o taco. Pego o ônibus, o oásis, o Outro e o
oráculo. Só sou passado, parábola, pacato pacto. Fui solidão, silêncio, sutil
simulacro. Hoje sou dada, data, deslize da
capo*. Plantei sorriso, sistema, sirena e sisal. Colhi boicote, bemol**,
beneplácito banal. Tracei o ontem, ornejo, omícron*** e odisseia. Fiz
dezesseis, desonra, desídia e desígnio. Não sou letrada, loquaz, longínquo
laticínio. Sou só do contra, do campo, do copo, da copa. Gritam remissa,
remoque, retruco e revolta. Só sou Raíssa, refluxo, refresco e escolta.
*Na teoria musical, “Da Capo” é a expressão italiana que
designa quando a partirtura deve voltar ao início. Nesse texto, tem a função de
sinalizar que os deslizes sempre estarão em um ciclo na vida do eu-lírico.
**Representa um acidente que abaixa meio tom a figura
musical.
***A décima quinta letra do alfabeto grego.