15 coisas que aprendi com a ONHB.


Como muitos leitores já acompanharam, escrevi sobre a Olimpíada Nacional em História do Brasil uma série de vezes, tendo postado inclusive algo parecido com isso: 50 coisas que aprendi com a ONHB. Agora, com um certo distanciamento temporal da época que participei e fui classificada para a final, em Campinas-SP, trago aqui 15 (não necessariamente) novas coisas que aprendi nesse período.

Piauí na fase final da 4ª ONHB


1. A ONHB pode fazer até o mais distante dos estudantes se apaixonar por História.

Não, não é utopia. Eu, por exemplo, não tinha esse amor todo por História até conhecer a ONHB. Minha ideia da disciplina era levada para o lado da decoreba, do comodismo com montes de datas e nomes que pouco iriam me servir posteriormente. A ONHB me ajudou a pensar criticamente. Eu me apaixonei por História.

2. Aprendi a interpretar textos e imagens e a ter ritmo de leitura.
Antes da ONHB eu já tinha uma boa base de interpretação textual e um ritmo de leitura que nunca tinha me deixado na mão. Depois da ONHB, eu definitivamente me tornei uma devoradora de documentos historiográficos e melhorei muito meu desempenho também em outras matérias.


3. A ONHB me ajudou a ser aprovada em uma universidade pública aos 14 anos.

Pois é. Eu fiz o ENEM na oitava série (nono ano), aos 14 anos, logo após voltar da fase final, em Campinas. Tive um bom aproveitamento para a minha série, consegui ler bem todas as questões e me sentia muito pronta para responder Linguagens e Humanas. Quando estava fazendo a prova do ENEM, me sentia respondendo a ONHB nas reuniões do colégio. Depois, percebi que até a forma de distribuição das alternativas é parecida: uma totalmente errada, uma parcialmente errada, uma um pouco certa, uma certa e outra completamente certa, exatamente como pedia no enunciado. Não tive um desempenho louvável como almejo hoje, mas foi nesse meu primeiro ENEM, em ritmo de ONHB, que fiz 36/45 de Humanas e 36/45 de Linguagens.  880 na redação. Ao fazer, me senti também na fase final da ONHB, que a equipe fez  3 redações sobre temas surpresa. Fui aprovada, com esse ENEM, para Jornalismo (federal, na 1ª chamada do SISU 1), Psicologia (federal, segunda chamada do SISU 1) e Enfermagem (federal, SISU 2).


4. Já que estamos falando disso: foi com o treino que a ONHB me trouxe que no ano seguinte, aos 15 anos, fui aprovada para Direito em uma universidade pública.
Muita gente pode não entender como a ONHB pode ajudar tanto no vestibular. Pois bem, explico-lhes: no período da Olimpíada, eu treinava pesado com a minha equipe. Nossa aula terminava às 13h20min, almoçávamos em um restaurante na frente da escola, já falando sobre ONHB. Voltávamos para a escola às 14h e começávamos a reunião que ia até o início da noite. De segunda à sexta. Chegando em casa, era se virar nos 30 para conciliar o conteúdo normal da escola com as pesquisas que a ONHB recomendava. Eu ia dormir tarde, ia dormir cansada, chorava toda véspera de resultado para a próxima fase. Mas no fim, toda essa dificuldade me trouxe ótimos frutos.

5. Aprendi a almoçar ONHB. Literalmente.

Como eu já disse, minha equipe almoçava no mesmo restaurante que eu. Éramos os estranhos do local. Um bando de adolescentes reunidos em uma mesa longa, todos discutindo o valor histórico de um Modess (eu adoro essa história do Modess, hahaha Pesquisem a questão de uma ONHB passada que trouxe essa temática) ou como um cristão-novo podia produzir tantos rituais sem que muita gente notasse. Revista de História da Biblioteca Nacional do lado, prato do outro. Se tinha sobremesa, ninguém mais ligava. Dava briga, dava confusão. Quando se via, o grupo de adolescentes cultos já se mostrava exaltado. O motivo: estávamos divididos entre as alternativas A e C. Para desfazer isso, só muita conversa. Só muita retórica. Só muito convencimento, muita pesquisa, muita fonte. Minha equipe não se rendia só porque eu achava a alternativa correta, eu ia até as profundezas da internet (sem fazer alusão à Deep Web, eu realmente não precisei ir lá para responder a ONHB) para mostrar que eu estava certa. Nisso, eles me convenciam e eu tinha que mostrar humildade ou eu tinha razão e conseguia mostrar minhas teses. Uma coisa é certa: sem muita conversa, muita pesquisa, a equipe não ia para a frente.


6. Fui uma ONHBzeira até quando a Olimpíada tinha chegado ao fim.
Como o post não necessariamente foi escrito em ordem cronológica, trago esse ponto. A ONHB me ensinou a pesquisar. Quando percebi, estava fazendo análises do contexto histórico dos meus escritores, pintores e músicos favoritos.

7. Se você souber usar, o material disponibilizado pela ONHB pode te salvar em outras matérias.

Vai por mim: nunca deixe de lado um documento que a ONHB trouxe. Leia quantas vezes for preciso. Pesquise além daquilo, o link dado é só uma base. Não estude História apenas para passar de fase. Entenda História. Você vai se apaixonar.


8. Detalhes mudam tudo!
Por isso, nunca deixe de ouvir a opinião daquele seu colega de equipe chato pra caramba que desconfia de tudo e todos e teima em dizer que tal detalhe daquele texto ou quadro não bate com a alternativa. Você pode até achar que bate, o resto da equipe vai achar que bate, SUAS PESQUISAS VÃO ACHAR QUE BATE. Mas não vai bater. Confie nos detalhes.

9. Você ainda vai aprender a fazer muitas piadinhas e cantadas históricas. Fuja do meio social quando isso acontecer.
Desculpa, mas fuja, fuja mesmo. Piadas e cantadas históricas são inteligentes. Para você, participante da ONHB. O resto do mundo vai achar que é caso de loucura.

10. Se você ainda não tiver o hábito, entre em um relacionamento sério com o café.
Precisei MUITO dele tanto depois do almoço (quando começávamos a reunião) quanto à noite (quando eu ia revisar para a escola).

11. Acostume-se a imaginar que todo grupo de 3 adolescentes é uma equipe adversária.
Talvez não tenha uma “neura” tão grande na sua cidade, mas quando chegar na final, passeando pelos shoppings de Campinas, você vai ver concorrentes por todos os lados. E vai descobrir que eles realmente eram candidatos da ONHB.

12. Longe de ser só isso, acostume-se a conviver com as diferenças.
A ONHB trouxe várias discussões para a pauta dos encontros sociais: religião, preconceito racial, de gênero, diversidade, arte urbana, feminismo e muitas outras coisas que você dificilmente conversa sobre, TODOS OS DIAS.

13. Supere o monstro devorador de café sem açúcar e documentos historiográficos que existe em seus concorrentes.
Sim, porque é isso que você vai pensar que seus concorrentes são: monstros devoradores de café sem açúcar e documentos historiográficos. Aproveite a Olimpíada para treinar sua concentração, sua capacidade de trabalhar sob pressão e seu medo (que geralmente todo estudante de Ensino Médio tem), que é passar no vestibular no final do ano. Você vai ter meses, durante a Olimpíada, para se reeducar. Depois dela, é só continuar estudando com a mesma disciplina e comprar o carvão para o churrasco do início do ano (alô papai, alô mamãe).



14. Toda dor é suportável.
Por isso, entregue-se de verdade à Olimpíada. Aprenda com ela, plante sementes e sinta orgulho de ser um apaixonado por História. Quando entrei na Olimpíada, aprendi que toda dor é suportável. E que quando estamos frente a frente do nosso objetivo, até o mais profundo dissabor deve ser encarado como aprendizado. Pesquise, pesquise muito, pesquise novamente, de novo, mais uma vez, sempre. Depois, quando você já está lá, em Campinas, visitando a Unicamp e tendo a oportunidade de conhecer pessoas incríveis (tais quais os membros da Comissão Organizadora e a diva da Cristina Meneguello, que foi amor à primeira vista para toda a minha equipe), você sente como foi bom, como valeu a pena. Como se reabilitar e passar de aluno mediano em História para “louco”, crítico, pensador REALMENTE valeu todo o esforço.

15. História é terapia, apontam estudos da blogueira que vos fala.
Desculpe-me se você preza as fontes. Esse “estudo” é meu mesmo. Brincadeiras à parte, explico-lhes: eu estava passando por momentos difíceis na época que aceitei participar da Olimpíada. Depressão, para ser mais exata. Entre um ótimo acompanhamento profissional e outras ajudas que vieram depois, a ONHB foi, depois do próprio apoio psicológico, o que me fez ter gás para continuar meu ano buscando motivos em algo realmente interessante. Pode parecer dramático para quem vê de longe. Quem conhece de perto o que é a depressão, sabe que até a mais sorridente das pessoas pode se isolar de tudo e perder a vontade de fazer até as coisas mais simples. Comigo não foi diferente. Estudar História foi o meu reinventar naquele ano. De repente, naquele curto espaço de tempo, eu me sentia com forças, com vontade, com necessidade de desbravar todos aqueles documentos. Todo mundo precisa de um motivo para continuar quando as coisas apertam. Seria hipocrisia da minha parte dizer que o meu único estímulo veio dos estudos da História. Mas seria injusto não admitir que foi ela uma das grandes responsáveis para que eu chegasse ao fim do ano mais feliz e realizada. Nível de paixão pela Olimpíada: História é terapia. Vai por mim.

Essas são minhas observações. Fiz mais no primeiro post, na época que eu participei e fui à final (50 coisas que aprendi com a ONHB). A Olimpíada Nacional em História do Brasil mudou minha vida, de verdade. Espero que mude a de vocês também.
Abração!

Raíssa Muniz



2 comentários:

  1. Vou participar, pela primeira vez, da ONHB este ano. Confesso que estou bastante ansioso.
    Minha rotina está pesada, mas vou dar o meu máximo nessa olimpíada. Ah, confesso que não sou muito fã de história, espero mudar minhas impressões depois de participar do ONHB.
    Abraços!

    http://www.tudoonlinevirtual.blogspot.com.br/

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