É tudo pessimismo.


Persisto com o mesmo péssimo hábito de escrever e reviver o que eu escrevo. Na verdade, permaneço com vários péssimos hábitos. Esse é o menor e mais complicado deles — assim mesmo, deixando de lado as dúvidas dirigidas ao paradoxo.
Sou uma péssima escritora. Péssima, péssima, péssima. Que se dê a ênfase necessária ao adjetivo. Não sei se um dia chegarei pelo menos aos pés da escritora corajosa que eu já pretendi ser.
Tenho cultivado péssimas manias. Péssimas, péssimas mesmo. A esse parágrafo, entretanto, prefiro trocar as palavras pelo vazio.
Tenho ouvido boas músicas e atribuído péssimos sentidos às mesmas. O mesmo se dá aos bons filmes, aos bons livros e às boas poesias. Péssimos sentidos.
Estou escrevendo um livro. Péssimo, pra não perder o costume. Não, não pretendo publicá-lo. Nem fazer qualquer coisa que desmereça o adjetivo “péssimo” que dei a ele.
Até meus sonhos se fundiram ao adjetivo-mestre deste texto. Aliás, texto esse que também segue o mesmo comboio. Péssimo.
Pessimismo é o que não me falta no momento.

Raíssa Muniz em 19/04/13.

"Medíocres & prepotentes", por Laís Romero.

"Eu não sei escrever. Não sei recitar. Eu não nasci com um dom. Não ganhei nenhum prêmio literário. Não sou famosa no sudeste do Brasil. Não me formei num curso de Direito. Não sei desenhar, nem pintar, nem esculpir. Não publiquei nenhuma obra com 18 anos. Não revolucionei a sintaxe de minha língua. Não sou regionalista, nem ufanista, nem 'ista' nenhum. Não moro em Brasília, nem no Chile. Não sou marginal, nem alternativa, nem punk. Não falo 4 línguas, nem inventei uma. Não danço ballet, nem aprecio quem o faça. Não sei dançar. Não canto, nem toco nenhum instrumento. Não fui presa na ditadura, nem torturada. Não escrevi um best seller sobre minha prisão em 64. Não morri de tuberculose. Não me suicidei na Segunda Guerra. Não comprei ações e fiquei milionária. Não sou diplomata. Não escrevi cartas quando era diplomata. Não deixei minha amante morrer afogada. Não salvei poesias de um naufrágio enquanto minha amante morria. Não sei tudo de gramática. Não me formei em Português. Não tenho nome de flor. Não mudei meu nome. Não me casei com um filósofo famoso e suicida. Não tenho heterônimos. Não sei jogar xadrez. Não fiz cinema mudo. Não fiz cinema. Ninguém chorou em meus filmes. Não sou uma psicopata, nem sociopata nem nada disso. Sou o abstrato, o fim e o meio, o propósito e a falha.
No instante em que decifro o código que me faço sentido, existo, humana e ordinária."
Laís Romero, do blog Alecrim e o sufoco atmosférico.