Odeio a morte (por Andréa Nolli)



Odeio a morte.

Desde a minha formatura, desenvolvi um hábito peculiar. Após cada semana difícil no trabalho ou na vida pessoal, presenteio-me com flores. No começo, meio prepotente, eu só me brindava com a beleza das orquídeas. Difícil manter um orçamento com orquídeas pós momentos difíceis, sendo médica. Todo momento é difícil, todo momento era momento de orquídea. Adaptei o hábito, continuo sempre me brindando com flores lindas, mas, nem sempre orquídeas.
Mas porque flores? Por que não uma roupa? Um acessório? Um bem durável, algo que representasse um investimento e não um gasto?Deixa-me ir mais além para me fazer entender.
Muitas vezes fui questionada sobre os motivos que me fizeram escolher a Medicina como profissão. Pensei bastante, gosto da investigação clínica, dos mistérios do corpo, de ajudar o próximo, de acalentar dores, tudo isso é verdade. Mas, pensando bem, escolhi a medicina porque odeio a morte.