Aprovada em 5 vestibulares de Medicina dá dicas de como se preparar.


Por Raíssa Muniz

A estudante Andressa Campelo iniciou o ano de 2012 com 5 aprovações no curso de Medicina, conquistando, entre elas,  a 1ª colocação em duas federais nacionalmente reconhecidas (Universidade Federal do Piauí e Universidade Federal do Rio de Janeiro). Tendo se tornado quase que imediatamente um exemplo para os admiradores e vestibulandos de Medicina, seu nome vem se tornando cada vez mais citado entre conversas entusiasmadas de estudantes.
Em uma dessas conversas, Andressa foi apresentada por suas façanhas ao “VestMedDáDeprê”, grupo virtual que hoje conta com quase 3.000 estudantes que se unem por um único sonho: o de tornarem a Medicina algo palpável em suas vidas.
O grupo surgiu após alguns jovens sentirem a necessidade de compartilhar suas experiências enquanto vestibulandos do curso mais concorrido do país. Aos poucos, foi se tornando não só um local de compartilhamentos cotidianos, mas também uma família cada vez mais engajada em apoiar seus membros – tanto intelectual quanto moralmente. Hoje, alguns já foram aprovados no tão sonhado vestibular, levando assim palavras de incentivo aos que continuam perseverando.
Atendendo aos pedidos do grupo, busquei contato com a Andressa e realizei uma espécie de questionário, com perguntas enviadas por os próprios membros do VestMedDáDeprê.  Achando pouco fazer ela responder todas as perguntas, fiz uma “entrevista anexada”. Vocês podem conferir tudo nas linhas que seguem.

E ela persiste.


Inconstante. “Meio assim” avessa às demonstrações de afeto, acenos públicos, reconhecimentos fervorosos. Transeunte sempre da calçada contrária. Poucas vezes para, suspira, exibe sinais que viu o dito – e temido – conhecido. Constantemente, porém, segue em frente. Fisicamente, seu corpo se (i)limita a seguir seu próprio rumo, altruísta, poupando grandes desfeitas – que sempre chegam. Mentalmente, os olhos ficam lá. Lembrando de cada resquício deixado. Cada rasgo, cada rompante de personalidade. Cada toque de um quadro que – talvez infelizmente – foi pontilhado, demonstrando a maestria de seus artistas.
E ela segue. Mas talvez por não ter realmente um lugar para ir, retorna. Volta, desbota, estraga. As personagens não são as mesmas – as sensações, tampouco. Os detalhes persistem, inexistentes. Na sua mente, tudo permanece exatamente da mesma maneira. Seus olhos, porém, negligenciam-na ao mostrarem o que realmente ficou. Algumas pinturas, alguns artefatos um pouco mais valiosos. Quadros roubados, papéis destroçados. Outrora tão limpos, tão secos, tão solúveis. Agora, borrões de tinta.
Assombram-na ainda que acordada. Quando tomada pelo irrealismo da noite, cegam-lhe os olhos. Correm, ultrapassam, seguem. Tomam-lhe o sossego, a lucidez. Abre os olhos pela manhã, esvaída.
Segue mais um dia, passa novamente na calçada – sempre contrária –, encontra seus estimados, continua, procura rumos; encontra-os. Chega ao atelier dos quadros borrados, tentando esconder seus suspiros chorosos. Encara as obras que lá sossegam – tão diferentes dela. Perde-se em seus detalhes, suas técnicas, seus pontilhismos. Cega. Adormece silenciosamente, ainda atenta – não fecha os olhos, tampouco. Os quadros retornam, os traços também. Seus artistas, mortos por sinais do tempo, voltam também.
E ela persiste.

Raíssa Muniz – 27 de Julho de 2012.



Petrine.


Austera, metamorfoseada e metamorfoseante.
Cercada por pesquisas, raios-X, olhares atentos e observações descuidadas. Outrora fora pressionada, mudada e drenada até que a última gota de sensibilidade lhe fosse retirada. Hoje, era ela que drenava. Entre palavras, entre observações, entre pós-escritos. Drenava sempre.
Não parecia ser a mais confiável das mulheres; pelo contrário: aparentava uma antipatia tão desvanecedora que repelia todos os pensantes mentais de seu convívio. Sim, pensantes mentais. À primeira vista, um pleonasmo. À segunda, um enriquecimento.
Ainda conseguia chamar para si os pequenos sorridentes. Os desbravadores de corações endurecidos, os pensantes sentimentais. Há quem diga que eles também usavam da racionalidade, mas a contrapartida é rápida: Petrine não permitia que fosse interpretada racionalmente. Aos olhos da razão, era uma nefanda. Aos do coração, era uma amiga.
Talvez por facilmente se misturar entre os pequenos, ela se acomodava confortavelmente. Cruzava as pernas, buscava brinquedos, trocava ideias. Comentava sobre o último lançamento da Mattel. Demonstrava interesse por a última temporada dos Ursinhos Carinhosos. Era uma completa releitura de criança.
E ela continuava nesse impasse: aos adultos, era uma mulher fria. Aos pequenos, era uma criança tão doce e infantil como qualquer outra. Há também quem narre as conversas que mantinha com seus jovens amigos. Eu, particularmente, nunca pude constatar se eram verdadeiras.
Apenas uma vez, quando eu tentava desemaranhar minhas divagações em pleno âmbito público, ela abriu a porta por uma primeira vez naquele dia. Abriu com desenvoltura, seu pequeno corpo demonstrando segurança até para segurar a maçaneta. Olhei para aquela figurinha, esperando ver a mesma expressão fria de sempre. Seus traços herdados da família italiana, no entato, fitavam ainda outra figura – menor ainda que ela própria. Em vez de uma expressão fechada, de lábios contraídos e observações inquietantes, sua face se tomava por olhos preocupados, quase que exalando ares maternos.
Ela olhava para um dos pequenos amigos. Um menininho com seus 5 anos que apertava um carrinho contra o peito de forma tão forte que parecia machucá-lo.
Naquele momento, mais uma inquietação me veio à mente: eles estavam brincando com aquele carrinho. Ele sorriu, despediu-se, caminhou até a porta e, ao chegar até a mesma, voltou correndo. E pulou para os braços de Petrine.
Ela o segurou de forma ainda mais forte que o mesmo fizera com o carrinho, segundos antes. Abraçaram-se, trocaram cordialidades. Meus olhos se limitavam a se arregalarem.
O menino, uma vez chamado pelo pai, caminhou novamente até a porta. Dessa vez de forma mais calma, mais doce, mais natural. Deu um último aceno à pequena grande amiga. Ela acenou de volta.
De repente, pareceu que tudo havia voltado ao normal. E realmente, isso tinha acontecido. Petrine voltara a ser a mulher impassível de sempre. Lançou outros olhares observadores. Passou por mim demonstrando tanta atenção como qualquer cego daria a uma decoração de parede. Dirigiu-se até outros tantos pequeninos, levando-os pela mão.
Nesse momento, finalmente consegui parar de fitar seus olhos para perceber o resto da expressão. As crianças pulavam, conversavam animadas. Uma menininha pulou para o seu abraço, tal qual o garoto do carrinho. Ela sorriu, dando um beijo nas faces da colega mais experiente.
E pela primeira vez, constatei algo que há meses tentava observar: Petrine também sabia sorrir.


Raíssa Muniz – 19/07/12


Vestibular de Medicina: Vai desistir agora? (45 dias de reabilitação - dia 24)


Apesar da enorme demora em narrar o decorrer desses 45 dias, cá estou — totalmente culpada e com uma pilha de livros me encarando de cara fechada —para atualizar a tag.
As dificuldades, que antes me pareceram tão pesadas e invencíveis, agora nada mais são que experiências dignas de recordações. Os estudos, que outrora também pareciam (admitindo: de certa forma, ainda parecem) fortes demais para mim, já são vistos como um desafio mais saudável. As surpresas eu pude receber de forma serena. As decisões eu pude tomar sem aquela velha culpa do dia seguinte.